ATL 2017

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terça-feira, 24 de abril de 2018

Funai: um general a menos


Na tarde de quinta-feira, 19 de abril, Dia do Índio, o general Franklimberg Ribeiro de Freitas, comunicou aos funcionários da Funai, a entrega do pedido de exoneração do cargo de presidente do órgão indigenista. Se antecipou às pressões impostas pelo agronegócio sobre o governo Temer. Na saída, Franklimberg “admite que sofreu uma pressão forte da bancada ruralista e diz que foi demitido por não fazer malfeitos” (Estadão 20/04/1918).



Durante a ditadura militar/civil, um militar afirmou que para ser presidente da Funai não precisava entender de índio, era suficiente saber administrar. O agronegócio e os ruralistas querem mais. Não se precisa entender de índio e não fazer nada do que manda a Constituição. É preciso agir eficazmente contra os índios e seus direitos. Prova disto é que há mais de uma centena de projetos antiindígenas no Congresso Nacional.  Além disso, são inúmeras as iniciativas do governo que vão nessa direção. Controlada pelos ruralistas, a CPI da Funai e do Incra, recomendou em 2017 a extinção do órgão indigenista. Na prática, a política de sucateamento da Funai vem confirmando que a bancada ruralista e o agronegócio trabalham agressivamente para suprimir direitos indígenas da Constituição para avançar sobre os territórios indígenas e os recursos naturais nelas ainda existentes.

Quase um presidente da Funai por ano
Conforme a galeria dos presidentes da Funai, foram nomeados 40 presidentes em 51 anos de existência. É sem dúvida o órgão do Estado brasileiro alimentado com maior número de contradições e antagonismos. É o que expressa inequivocamente o altíssimo número de presidentes do órgão nestas cinco décadas


 O general e os malfeitos

Se perguntássemos quais os malfeitos de Franklimberg nos quase dez meses em que esteve na presidência da Funai, com certeza diríamos que foi a omissão e quase total paralização da obrigação primeira do órgão que é a demarcação e garantia dos territórios indígenas. É evidente que esse é o crime que o Estado brasileiro continua cometendo, gerando uma situação de violência e genocídio. Os poucos funcionários, a falta de recursos, as pressões políticas e econômicas são as causas profundas dessa malfadada política indigenista do atual governo, que nesses dias está sendo denunciado na ONU.


A atual mudança na direção da Funai faz parte das estratégias do agronegócio em curso nesse período pré-eleitoral e de golpe político.
O Acampamento Terra Livre certamente estará trazendo para a capital federal o grito e o clamor dos povos indígenas do Brasil.
Apesar do quadro caótico e desalentado, os povos indígenas tem sustentado um enfrentamento permanente.

O bode na sala

Não tem como não relacionar a troca do presidente da Funai com a intensa atividade, mobilização e enfrentamento dos povos indígenas e seus aliados no decorrer da próxima semana.
O Acampamento Terra Livre se inicia nesta segunda-feira com debates sobre os principais problemas que atingem os povos indígenas no país atualmente. Serão dias intensos de debates, mobilizações e contatos nos três poderes.


Será mais um momento forte de cobrança dos direitos constitucionais e denúncia em nível nacional e internacional da ameaça de retirada de direitos dos povos indígenas e povos tradicionais.
Diante desse cenário, astutamente o governo e setores antiindígenas estão procurando desviar o foco das lutas tentando introduzir um bode na sala. Os povos indígenas já alertaram que não se deixarão envolver pelo debate em torno das disputas pela presidência da Funai.
Os encantados e os guerreiros de todas as tribos, os deuses que iluminam os caminhos da resistência e da vida certamente estarão alimentando mais esse momento de luta.
Egon Heck / Cimi Secretariado Nacional
Fotos – Laila/Cimi

terça-feira, 10 de abril de 2018

Salvos pela reza e resistência



Quando as tropas formadas por agentes da polícia federal, polícia militar do estado do Mato Grosso do Sul, corpo de bombeiros e polícia especial da fronteira – DOF já estavam a caminho da anunciada ação de despejo de duas comunidades Kaiowá Guarani, no município de Caarapó, próximo à Terra Indígena Tey  Ikuê, foram surpreendidos com a decisão da Ministra Carmen Lúcia presidente do Supremo Tribunal Federal, de suspender a reintegração de posse.

  


Era madrugada do dia 9 de abril. Muita reza e uma grande rede de solidariedade nacional e mundial. Mais um massacre estava prestes a acontecer. As rezas de dezenas de Nhanderu e Nhandesi ( líderes religiosos) e a mobilização do povo Kaiowá e Guarani, mobilizados e em resistência conseguira evitar mais um massacre eminente. A decisão da ministra Carmen Lúcia foi decisiva. Se espera que o Estado brasileiro, conivente  e responsável por essa situação permanente de tensões, violência e genocídio, de sequência imediata ao reconhecimento e demarcação das terras dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul, caso contrário continuará sendo acusado em instância internacionais por esses crimes.   

O genocídio continua no Mato Grosso do Sul


“Não aguentamos mais, voltaremos a nossas terras para delas cuidar e viver com dignidade’  Com essa afirmação no documento final da Aty Guasu, realizado na aldeia de Pirakuá, os indígenas Guarani Kaiowá expressaram sua disposição de voltarem  ao sagrado direito dos seus territórios, através da única alternativa que lhes resta: retornar a suas terras tradicionais, os tekohá..
Diante de mais uma operação de brutal violência que significa por si só  a ação de despejo, pois a Constituição federal e legislação internacional da qual o Brasil ´signatário garantem esse direito  incontestável a eminência de violência é grande.


“A comunidade decidiu resistir e está disposta, se preciso for, morrer na resistência”, conforme externaram lideranças das comunidade ameaçadas de despejo. Afirmação que veio corroborar a afirmação já expressa na Aty Guasu de Pirakuá, realizada no final do ano passado “Caso persistir  a reintegração de posso o Estado brasileiro será responsável, pois haverá morte coletiva do povo Guarani e Kaiowá, nós resistiremos até o fim”.
A atitude de total desprezo e desrespeito à Constituição e à lei 6001, Estatuto do Índio de 1973, conforme as quais o Estado Brasileiro deve demarcar todas as terras
indígenas já  a mais de 25 e 35 anos respectivamente. E concluíram “Vamos nos mobilizar para evitar esse massacre.
O povo Kaiowá Guarani pede a suspensão do despejo para que não aconteça mais um massacre, como em 2016.
 Na Aty Guasu de Pirakuá os Kaiowá Guarani externaram sua inquebrantável resistência e esperança “Resistiremos na esperança de crescermos na união, fazendo nascer do nosso chão, regado com nosso próprio sangue e com as lágrimas de nossos sentimentos veremos crescer novos guerreiros”.


Lideranças das aldeias ameaçadas de expulsão estão enviando um grito de SOCORRO. Terminam sua carta de pedido de socorro afirmando a decisão de não abandonar seus tekohá “Somo donos das terras originárias, lutaremos até a morte, nessa terra sagrada”
Conforme expressou o delegado da polícia Federal Luiz Carlos Porto, que esteve com as comunidades/aldeias  na semana passada
“O despejo não resolve o problema, só as demarcações podem resolver o problema, demarcar e demarcar.”
Quem sabe o Estado brasileiro comece, com décadas de sangue derramado, a começar a  pagar a secular dívida para com os povos originários do Brasil

Egon Heck
Cimi, Secretariado Nacional
Abril de 2018