O que poderia parecer apenas mais um curso de formação a se
realizar no Centro de Formação Vicente Canhas, em Luziânia acabou se tornou um
momento de retomada de uma das dimensões fundamentais do Cimi nesses mais de 45
anos de existência: a sustentabilidade e
soberania alimentar dos povos indígenas em seus territórios
Partindo da constatação de que esse é um dos calcanhares de
aquiles dos povos indígenas de gravíssimas consequência nesse momento do enfrentamento e ferocidade do
agronegócio. Durante 5 dias buscamos aprofundar essa realidade e traçar
estratégias de apoio aos povos indígenas em sua caminhada de construção de
autonomia, autodeterminação.
O avanço avassalador do agronegócio sobre os territórios
indígenas e os recursos naturais neles existentes, atualiza na atual conjuntura
do país a tese dos governos da ditadura civil militar há poucas décadas: um
Brasil sem índios, com a total liberação dos territórios indígenas para o
latifúndio e agronegócio. Porém a
resistência e união dos povos nativos conseguiu
não apenas reverter esse processo,
mas possibilitou, ao revés, um extraordinário crescimento populacional,
organizativos e participante da luta dos movimentos sociais para a construção
de um novo projeto para o país, com o reconhecimento de mais de 300 povos
indígenas com quase um milhão de pessoas. Um país plural, socialmente justo, em
que o mais importante é o bem viver de seus povos.
Resistência e insurgência dos povos nativos, originários
Nos últimos anos os povos indígenas bem como os pobres do
campo e as populações e povos tradicionais mantiveram permanente enfrentamento
com o regime desenvolvimentista imposto e contrário aos direitos
constitucionais dos povos indígenas. Em outubro deste ano estarão sendo
celebrados os 30 anos de existência da Carta Magna do pais. Serão também 25
anos de descumprimento da Constituição, particularmente o que determina que o
Estado brasileiro demarcasse todas as terras indígenas. Vergonhosamente não
apenas faltam demarcar quase a metade das terras indígenas, bem como as já
demarcadas estão a grande maioria invadidas e sob a pressão feroz e permanente
do agronegócio, das madeireiras, das mineradoras e setores militares.
Graças à permanente mobilização dos povos conseguiram impedir a
retirada dos direitos da Constituição, mas também formaram um amplo processo de
alianças, desde as realidades e lutas da aldeia até encontros com
personalidades mundiais, como foi o recente encontro com o Papa Francisco, em
Puerto Maldonado e a participação expressiva no Encontro Nacional das CBBs –
Comunidades Eclesiais de Base) que está se realizando em Londrina.
É a insurgência contra essa política de ataque aos direitos
indígenas e a exigência do cumprimento da Constituição e garantia dos direitos.
Os sistemas agroecológicos,
agroflorestais e economias indígenas são importantes armas nesse
enfrentamento
No enfrentamento com os interesses anti-indígenas será preciso muita união e sabedoria,
disposição e persistência.
Experimentos e visitas
O encontro também procurou desenvolver o conhecimento
através de experimentos, visitas, questionamentos, debates
José Zarate, engenheiro agrônomo que trabalha na Fundação
Metropolitana, Colômbia, trouxe
informações e exemplos
práticos que muito nos ajudaram na construção de linhas de ação políticas e
práticas para a implementação de sistemas agroecológicos e agroflorestais na
nossa atuação junto aos povos indígenas.
José insistiu na importância de se ter um plano de vida,
individual ou comunitário, para se poder avançar em nossas intenções de
consolidar e implantar sistemas agroecológicos. Algumas sugestões ficaram evidentes, como
aumentar o intercambio de sementes e experiências; que o espaço do Centro de
Formação do Cimi seja um lugar para visualizar e estimular as práticas
alternativas, visando a superação do
modelo de produção capitalista, constituir um banco de sementes no CFVC
Egon Heck
Cimi, Secretariado
Brasília, 23 janeiro 2018
Fotos Laila Menezes
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