Maluco beleza
Fala com as
árvores e faz pactos de não agressão com as cobras. Cuida com especial zelo da
natureza, das árvores. Tem como costume todo dia encher três garrafas de água e
sair pela mata para matar a sede de
algumas mudas das quais cuida com especial carinho. Vive na floresta, em
barracos ou trailers. Não tem casa. Quem sabe um dia. ..
Jaci não
é um "cidadão normal", do
comum dos viventes que se auto-identificam como racionais. Razão pela qual nos
foi apresentado como "doido". Ele veio passar as festas de final do
ano em companhia com o silêncio e sua consciência e busca, num momento difícil,
em que, já com a saúde fragilizada, gostaria de fazer o máximo possível para
que a sua vida doada a vidas em mais de 40 anos não fosse destruído em um piscar
de olhos, depois do final de sua longa viagem pelo cerrado, pela Cachoeirinha,
em Goiás.
Trata-se de
uma figura extraordinária, com uma experiência de vida formidável e duma
coerência invejável. Percorreu várias partes do mundo e com especial carinho
partilhou tempo de sua vida na Austrália onde surgiu a
"permacultura", como sabedoria de harmonizar a vida/natureza ajudando na produção e recuperação do solo,
através da utilização das folhas, das podas temporárias.
Ele tem
razões de sobra para estar preocupado com os caminhos e descaminhos da
humanidade. Sua grande preocupação pela rápida deterioração das condições de
vida no planeta Terra. As rápidas e inexoráveis mudanças climáticas,
envenenamento da terra e das águas,
aceleração de fenômenos como temporais, seca, enchentes.. tudo isso
exige mudanças de rumos urgentes. Do contrário poderemos todos nos transformar
em vítimas de catástrofes naturais, ou vinganças da natureza.
As belezas do "maluco Jaci"
Tivemos
momentos memoráveis de silêncios e partilhas.
Ao andarmos entre as plantas nativas do cerrado do Centro de Formação e
Resistência Vicente Cañas, ele foi detalhando as propriedades terapêuticas de
cada uma delas e as preciosidades presentes em cada árvore. Alertou para as
possibilidades de melhor aproveitamento das folhas e da necessária coleta das
águas das chuvas. Além da importância de
instalar um sistema de energia solar, pois, arrematou "afinal de contas
aqui é um centro de formação para alternativas e não se trata de formação do
agronegócio".
Mostrou-se
interessado em conhecer as belezas de Terra Ronca. Combinamos em convidá-lo
para nos acompanhar numa das próximas viagens. Também nos interessamos em
conhecer a reserva de conservação da
Cachoeirinha.
Ao nos
despedirmos deixamos no ar o grito
"que venham mais e mais malucos e quiçá
o mundo não se acabará.
Egon Heck
dezembro de 2016
PS. Num
encontro posterior Jaci nos contou que agora já não mais o chamam de louco, mas
de "o velho da mata". Que também voltou a insistir na importância
de plantar mais alimentos para os
lobinhos que moram nesta região, além dos muitos animais que vão sendo expulsos
de seu habitat, com a devastação da mata.