Povos
indígenas do Mato Grosso do Sul tiveram mais uma semana de intensas
manifestações, denúncias, indignação e exigências, em Brasília e no Estado.
Enquanto aqui cumpriam uma intensa agenda, juntamente com seus parentes de
várias regiões do país, em especial de Goiás, Tocantins e Rondônia, divulgaram
suas lutas, especialmente pela terra, e conquistaram ampla solidariedade dos
povos indígenas do país e seus aliados.
Na carta da
Aty Guasu (Grande Assembleia Kaiowá Guarani) exigem o fim do genocídio e a
urgente demarcação das terras/territórios originários, como única maneira de
por fim às violências, assassinatos e criminalização. “Nós, rezadores, rezadoras
e demais lideranças indígenas Guarani e Kaiowá, representando nossa Grande
Assembleia da Aty Guasu, somados a lideranças do Povo Terena e Kinikinau viemos
a Brasília exigir o fim do Genocídio que está em curso contra os nossos povos.
Genocídio conhecido e reconhecido internacionalmente e causado pela inércia do
Estado no cumprimento da Constituição brasileira e na demarcação de nossas
terras; pela perseguição do Estado que hoje mais uma vez almeja retirar nossos
direitos da Carta Magna e diminuir nossos poucos territórios (em especial pela
ação do Marco Temporal) e pelos ataques diretos de grupos paramilitares,
fazendeiros (mais de 33 ataques entre 2015 e 2016), que nos últimos dez anos
assassinaram mais de 16 de nossas lideranças e deixaram dezenas de indígenas
feridos”.
Enquanto em Brasília levavam suas denúncias aos diversos órgãos dos três poderes da República, foram surpreendidos por mais uma ação nefasta do agronegócio com a conivência do governo. Para administrador da Funai em Campo Grande foi nomeado um proprietário de terras, o Coronel do Exército, Renato Sant’ana. Imediatamente se posicionaram contrários a esse processo de militarização do órgão protetor de seus direitos.
Na carta entregue às autoridades, deixam um claro recado ao
governo Temer: “Queremos dizer ao Governo
Temer, que caso continuem tentando reduzir nossos direitos vocês irão conhecer
a força da reza e do Mbaraka dos Guarani e Kaiowá e dos demais povos do MS,
assim como muitos outros governos que passaram por Brasília conheceram e
aprenderam a respeitar a força dos povos originários deste país. Nós, povos
indígenas unidos e em marcha, conquistamos os direitos constitucionais que hoje
os senhores insistem em desrespeitar. Para os povos indígenas todo governo será
sempre provisório frente a nossos direitos que serão eternamente originários”.
Também manifestaram sua decisão de continuar lutando pelas suas terras e direitos, mesmo que isso custe suas vidas:
“Não
iremos calar e nem desistir de nossas retomadas, se esta for, infelizmente, a
única possibilidade que temos de voltar para nossos lares, retomaremos uma por
uma de nossas terras. Podem até matar nossa geração de agora, mas prometemos e
garantimos que as novas gerações já nascem seguindo os passos de nossa marcha”.
“Queremos denunciar os últimos e atuais
Presidente da Funai e os Ministros da Justiça por não cumprirem com suas
atribuições constitucionais. Prevaricam e são coniventes, omitindo-se diante da
morte de nosso povo e a importância da terra para nossa sobrevivência. Queremos
responsabilizá-los
por todos os males que a falta de nossas terras tem causado aos nossos povos”.
por todos os males que a falta de nossas terras tem causado aos nossos povos”.
No documento protocolado em vários órgãos dos três poderes, expressam sua confiança de que “as recomendações da Relatora especial da ONU para questões indígenas, são um motivo de esperança para nossos povos. Queremos renovar nosso total apoio a elas e exigir do Estado seu imediato cumprimento. Ao MPF pedimos que monitore sua implementação através de um cronograma acordado com o governo”.
Brasília, 13 de novembro de 2016
Egon Heck
Fotos Laila/Cimi
Secretariado Nacional do Cimi