Não
dá para titubear. O momento é delicado e complexo. Exige clareza política e
ousadia na luta. É com essa determinação que os jovens indígenas vem se
engajando cada vez mais na luta pelos direitos de seus povos, particularmente
na reconquista e garantia de seus territórios e autodeterminação a partir de
seus projetos de Bem Viver.
Quem
acompanhou as lutas dos povos indígenas, mormente nas últimas quatro
décadas, certamente ficou impressionado
com os processos de envolvimento crescente
da juventude indígena nesses processos complexos de resistência e
afirmação de suas identidades enquanto povos originários desse país. Eles
tem defendido com determinação e
galhardia seu espaço na luta e vida das aldeias e comunidades, apesar dos
enormes desafios que enfrentam no dia a dia.
Nailton
Pataxó Hã Hã Hai, tem insistentemente ressaltado o papel fundamental que os
jovens de seu povo desempenharam, na reconquista de seu território. E e por
essa razão que não se cansa de desafiar e convocar a juventude indígena a não
apenas continuar participando, mas ampliar
e qualificar essa presença nas lutas.
Em função desses desafios que ele e inúmeras lideranças tem insistido na
importância da formação politica dos jovens indígenas. Estes, por sua vez vem forjando processos
importantes na perspectiva de troca de experiências e articulação em nível mais amplo, nacional e
internacionalmente.
Lembro
que a liderança Kaingang, Nelson Xangrê, que liderou com muita sabedoria,
ousadia e astúcia as ações de expulsão mais de dez mil invasores e colonos
assentados pelo governo Estadual da Terra Indígena Nonoai no Rio Grande do
Sul. Após esse memorável feito Xangrê manifestou sua preocupação e desejo
“Agora que reconquistamos nossa terra está reconquistada, precisamos urgentemente dar formação a nossos jovens
para reconstruir nossa subsistência e economia, bem como iniciar imediatamente
um processo de recuperação da terra e reflorestamento”. Infelizmente nesse
aspecto ele não teve o mesmo sucesso do que na desocupação.
Juventude
indígena: ampliando as lutas e esperança
As
cartas e documentos elaborados nos quatro Encontros regionais dão a dimensão
dos desafios enormes enfrentados hoje pela juventude indígena em nosso país. Os
desafios maiores giram em torno da retomada e reconquista dos territórios dos
povos originários. E não é apenas ter alguma segurança jurídica, pois
constantemente são invadidos e agredidos pelos interesses do agronegócio e
elites econômicas e políticas. E as maiores vítimas de todos esses processos
acabam sendo os jovens que são assassinados e violentados, encontrando como
saídas extremas o suicídio.
Os jovens reunidos em Manaus denunciaram as violências e injustiças quw
sofre “Atualmente estamos sofrendo violências e violações de nossos direitos
constitucionais. Buscamos justiça pela
vida, fortalecendo nossos costumes, crenças e tradições protegendo nossas
terras e territórios. Não queremos a criminalização das nossas Lideranças, a
exploração de nossas terras, rios, florestas e lagos, denunciamos o massacre
dos nossos povos, e a postura colonialista do governo e do Estado. Diante dessa
realidade expressam seu grito de rebeldia e vida.
“estamos aqui, estamos vivos, nós somos, vivemos
nossas culturas, somos povos , nossa
existência está aqui ainda, temos nossa
força, não são vocês que vão nos derrubar, viemos para somar, pois
juntos somos mais.”
Os mais de 300 jovens Kaiowá w Guarani assim
afirmaram sua disposição de luta “Nascemos na luta e da luta não sairemos. Hoje
sabemos como o Estado e o Governo agem contra nosso povo pois sofremos o
descaso que praticam contra nossa juventude que fica abandonada na beira de
estradas. Hoje sabemos o que são os ataques paramilitares pois somos nós que
morremos Afinal quem foi Simião? , quem foi Clodiodi? Antes de mais nada eram
jovens, cheios de sonhos e vontades de vida como cada um de nós. É por eles que
lutamos e lutaremos. A memória deles segue viva na criação de nosso conselho da
RAAJ (Retomada da Aty Guasu Jovem). Não admitiremos mais que nenhum de nossos
jovens tombem e desde já nos colocamos
na luta pela justiça e pela punição dos assassinos.”
Os jovens do Nordeste fizeram um grande encontro
com mais de 400 participantes, onde afirmaram que “O fortalecimento da organização da juventude
foi apontando como uma das principais necessidades do movimento de luta
indígena no Nordeste, para garantir a posse e permanência nos nossos
territórios, partindo dessa realidade os jovens representantes dos povos
presentes nessa assembleia criam um grupo que tem como finalidade articular a
base para a criação de uma comissão de juventude a nível regional. Assim
afirmamos é golpe mas não é NOCALTE. E diga ao povo que avance. AVANÇAREMOS!
No Encontro da Bahia, os jovens expressam
sua disposição de continuar lutando:”
Movidos pela
nossa herança ancestral, que nos fortalece e nos conduz na busca de uma Terra
sem Males, e nos faz reafirmar o compromisso e a responsabilidade de continuar
nosso processo de luta contra o Estado brasileiro e contra todos os nossos
inimigos, que, com posturas colonialistas, continuam nos roubando, nestes 516
anos, negando nossos direitos, saqueado nossas riquezas naturais, dificultando
a manutenção dos nossos projetos de Bem Viver e tentando negar a construção do
nosso futuro.
Depois
de dois dias de debate e reflexão a partir dos posicionamentos assumidos nas
regiões, os jovens indígenas se propõem a Fortalecer a organização da juventude
indígena em nível local, regional e
nacional, promovendo momentos de formação política e jurídica, construindo uma
agente específica e construindo a realização de uma Marcha Nacional dos jovens
indígenas.
Ao
concluir seu documento os jovens do encontro da Bahia se unem a tdos os jovens
indígenas afirmando “Queremos honrar os
nossos compromissos e fazer jus ao tema do seminário, “Herdeiros da história e
guerreiros da luta”: ao som dos nossos maracás, olhando e valorizando o nosso
passado e fortalecendo o presente, para construir o futuro.”
Egon Heck
Cimi Secretariado
Nacional
Brasiia 26
de agosto de 2016