Brasília amanheceu em tom acinzentado. Para os quase 600
representantes indígenas de todo país reunidos no décimo acampamento Terra
Livre era um dia de intensa mobilização e manifestações na capital federal.
Parece que
procuraram testar o esquema de segurança e repressão com os povos indígenas. O
local do acampamento foi permanentemente
vigiado e tentaram intimidar as lideranças parando os ônibus na BR
040, rumo aos três poderes.
Nada mais
simbólico do que ocupar, com rituais, danças, flechas , maracás e bordunas, a
praça dos três poderes. Ecoou forte o grito de “estamos vivos! E estamos aqui!.
Na praça já estavam manifestantes dos atingidos por barragens – MAB.
A parte da
manhã desse memorável dia 27 de maio terminou com os indígenas protocolando uma
queixa crime contra os parlamentares Luiz Carlos Heinze e Alceu Moreira por
declarações racistas e criminoso incitamento à violência contra os índios. A
bancada ruralista está aproveitando a Comissão Especial da PEC 215 como
palanque anti-indígena e ataques aos direitos constitucionais desses povos.
Sob um Sol escaldante , com o refrigério de algumas
nuvens densas, os indígenas deram sequencia às manifestações dirigindo-se em
passeata até à frente do palácio do planalto. Forte esquema de segurança já
estava armado. Os índios deram seu recado em frente à rampa do palácio e
seguiram em direção do Congresso. De
repente irromperam para a plataforma que envolve os plenários da Câmara dos
deputados e do Senado. Ali fizeram rituais e danças, à semelhança de 1988
quando da conquista dos direitos indígenas na Carta Magna. Esse “espaço público
especial, foi fechado ao povo. Porém
assim como visitaram o plenário por dentro, em abril do ano passado, desta vez
o visitaram, pelo lado de fora. Os povos primeiros visitam os lugares
proibidos!
A manifestação
seguiu, acompanhado de veementes falas das lideranças, até o Ministério da
in-justiça. De maneira incisiva e dura, cobraram do ministro Cardozo a retomada
das demarcações das terras indígenas e garantia dos direitos desses povos. Foi
também o momento de um bom grupo se refrescar nas cachoeiras do ministério.
Nos caminhos da Copa, a repressão
O dia já avançava para seu final, com um agradável clima
para os manifestantes que se dirigiram para o Estádio Internacional Mané
Garrincha. Como brasileiros tinham o direito de
ver a taça ali exposta. Porém, no caminho, já próximo ao estádio a
marcha foi brutalmente interrompida com cavalaria, gás lacrimogêneo e de efeito
moral, balas de borracha e spray de pimenta. Seis índios foram feridos com
balas de borracha. A caminhada havia
sido convocada pelo Comitê Popular da Copa – DF, numa caminhada pacífica até o
Estádio mais caro do país, que mostra o encastelamento do poder da FIFA.
A articulação
dos Povos Indígenas do Brasil, distribuiu nota de repúdio contra mais essa
violência contra os povos indígenas. Repetiu-se a repressão cometida em Coroa
Vermelha no ano 2000..
Egon Heck
Secretariado do Cimi
Brasília, 28
de maio de 2014